quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Sobre Lúcifer




Quem é "Lúcifer"?

O nome Lúcifer é freqüentemente aplicado a Satanás, mas não há base bíblica para esta idéia. A palavra "Lúcifer" é a tradução em algumas Bíblias (ainda que não nas versões portuguesas mais comuns) da palavra hebraica hêlîl em Isaías 14:12. Versões bem conhecidas como a Revista e Corrigida, a Revista e Atualizada (1 e 2) e a Linguagem de Hoje traduzem esta palavra como "estrela da manhã."Isaías 14 é uma profecia sobre a queda do rei de Babilônia (veja 14:4). Este rei exaltava-se, buscando tomar a glória que pertence a Deus. A profecia de Isaías 14 mostra que ele seria derrubado de volta à terra.É interessante que o Novo Testamento fale sobre a "estrela D'alva" (2 Pedro 1:19) e a "estrela da manhã" (Apocalipse 2:28; 22:16). Em todas estas passagens, é claro que a estrela da manhã não é Satanás, ou qualquer outra criatura blasfema. O próprio Jesus é a brilhante estrela da manhã que abençoa seus servos fiéis.Então, por que o nome "Lúcifer" é freqüentemente aplicado a Satanás? O uso partiu de uma interpretação errada de Isaías 14:12. Muitos comentaristas inseriram algo maior neste texto, vendo-o como uma explicação da origem de Satanás. Certamente há razão para acreditar que o Diabo foi um dos anjos (Jó 1:6), que ele tem estado em rebelião contra Deus desde antes da criação da Terra (1 João 3:8; veja Gênesis 3), e que vários anjos seguiram sua desobediência e serão castigados eternamente (Judas 6). O que o rei de Babilônia fez foi o mesmo tipo de pecado: desafiar a autoridade do Rei dos reis. Neste sentido, podemos pensar em "Lúcifer" como um filho ou discípulo de Satanás (veja João 8:44), mas a profecia de Isaías 14:12 não está falando especificamente do Diabo.Esta é uma lição permanente para nós de Isaías 14. O rei de Babilônia serve como um lembrete claro da verdade das palavras de Jesus em Lucas 14:11: "... todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado." Que possamos andar humildemente com nosso Deus.







Lúcifer segundo a Igreja:


Segundo a igreja católica, Lúcifer era o mais forte e o mais belo de todos os querubins. Então, Deus lhe deu uma posição de destaque entre todos os seus auxiliares. Segundo a mesma, ele se tornou orgulhoso de seu poder, que não aceitava servir a uma criação de Deus,"O Homem",e revoltou-se contra o Altissímo. O Arcanjo Miguel liderou as hostes de Deus na luta contra Lúcifer e suas legiões de anjos corrompidos; já os anjos leais a Deus o derrotaram e o expulsaram do céu, juntamente com seus seguidores. Desde então, o mundo vive esta guerra eterna entre Deus e o Diabo; de seu lado Lúcifer e suas legiões tentam corromper a mais magnífica das criaturas mortais feitas por Deus, o homem; do outro lado Deus, os anjos, arcanjos, querobins e Santos travam batalhas diárias contra as forças do Mal (personificado em Lúcifer). Que maior vitória obteria o Anticristo frente a Deus do que corromper e condenar as almas dos humanos aos infernos, sua morada verdadeira? Na realidade, a crença na existência de uma entidade demoníaca em guerra contra Deus, a Igreja e seus agentes veio se prestar perfeitamente para garantir a hegemonia da Igreja Católica em uma Europa apavorada diante do fim do Império Romano, com a propagação de epidemias pestilentas, e com guerras intermináveis. A aparência de Lúcifer pode variar; acredita-se que ele (chamado agora de Diabo), pode assumir a forma que desejar, podendo passar-se por qualquer pessoa. Seu aspecto físico fora herdado de várias entidades das mitologias e religiões de diferentes povos antigos (não exatamente ligadas a maldade); Seu reino, os Infernos, sofreu infuência do Tártaro da mitologia grega, morada de Hades, local para onde iam as almas dos mortos, cuja porta de entrada era guardada por Cérbero, o Cão de três cabeças; seus chifres eram de Pam , uma entidade grega protetora da natureza; sua fama de representar uma força eternamente em conflito com Deus veio do Zoroastrismo. Ainda encontramos coincidências com as crenças dos antigos Egipcios, quando se acreditava que o Deus Anubis (o Chacal) carregaria a alma dos mortos cujo coração ao ser pesado numa balança, seria mais pesado que uma pluma.
Mas foi durante a "Idade das Trevas" que o "Anjo Decaído" ganhou a hedionda aparência com a qual o conhecemos hoje; asas de morcego, pés de bode, olhos de fogo, chifres enormes na cabeça, olhar aterrorizante, etc. A idade das trevas fora um momento fértil para a propagação nas crenças nas ações de forças demoníacas agindo sobre o mundo. Os milhões de mortos nas epidemias de peste negra vieram, juntamente com a ocorrência de guerras sangrentas, de que "o Anticristo estaria atuando no mundo". Foi aí que Lúcifer passou a representar a personificação do mal da forma mais intensa e poderosa que conhecemos hoje. Surge a crença de que para cada ser humano vivo na Terra, Lúcifer criou um Demônio particular, encarregado de corromper aquele indivíduo; já Deus, não poderia deixar por menos, e criou para cada ser humano um "Anjo da Guarda" ao qual incumbia da missão de proteger e zelar pela alma daquela pessoa.
Interessante observar que o próprio Jesus Cristo é a estrela da manhã que ilumina ate o fim dos tempos toda escuridão(trevas), como em Apocalipse 22:16 onde está escrito: "Eu, Jesus,enviei o meu anjo.Ele atestou para vocês todas essas coisas a respeito das Igrejas. Eu sou a raiz e o descendente de Davi, sou a estrela radiosa da manhã.". Assim como em II Pedro 1,19 que diz: "E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela D'alva apareça em vossos corações.".
A palavra Lúcifer significa "o portador da luz" ou "o portador do archote" (a palavra tem sua origem no latim, lux ou lucis com o significado de "luz"; ferre com o significado de "carregar"). Ou seja, de acordo com a origem, seu significado é "aquele que carrega a luz". Apesar de Satanás ser originalmente conhecido como Lúcifer, perdeu seu posto ao desejar subir a alturas acima de Deus e de Seu Ungido( JESUS CRISTO ).







Outras Opiniões:

Muitos exegetas afirmam que não existe fundamentação bíblica para identificar Lúcifer como o Satã tentador. Esta confusão com Satã foi ocasionada por uma má interpretação de Isaías 14:12-15: "Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. E contudo levado serás ao (Seol) inferno, ao mais profundo do abismo.".
Esta interpretação é geralmente atribuida a São Jerônimo, que ao traduzir a Vulgata atribuiu Lúcifer ao anjo caído, a serpente tentadora das religiões antigas, embora antes dele esta interpretação não existisse. Oficialmente a Igreja não atribui a Lúcifer o papel de Diabo, mas apenas o estado de "caído" (Petavius, De Angelis, III, iii, 4).
Por exemplo, a enciclopédia Estudo Perspicaz das Escrituras, vol.1, pág, 379, explica que “o termo “brilhante”, ou “Lúcifer”, é encontrado na “expressão proverbial contra o rei de Babilônia” que Isaías mandou profeticamente que os israelitas proferissem. De modo que faz parte duma expressão dirigida à dinastia babilônica.
Que o termo “brilhante” é usado para descrever um homem e não uma criatura espiritual é notado adicionalmente na declaração: “No Seol serás precipitado.” Seol é a sepultura comum da humanidade — não um lugar ocupado por Satanás, o Diabo. Além disso, os que vêem Lúcifer levado a essa condição perguntam: “É este o homem que agitava a terra?” É evidente que “Lúcifer” se refere a um humano, não a uma criatura espiritual. — Isaías 14:4, 15, 16.”
Por que se dá tal ilustre descrição à dinastia babilônica? Temos de dar-nos conta de que o rei de Babilônia seria chamado de brilhante apenas depois da sua queda e de forma escarnecedora. (Isaías 14:3)
O orgulho egoísta induziu os reis de Babilônia a se elevarem acima dos em sua volta. A arrogância da dinastia era tão grande, que ela é retratada fazendo a seguinte declaração jactanciosa: “Subirei aos céus. Enaltecerei o meu trono acima das estrelas de Deus e assentar-me-ei no monte de reunião, nas partes mais remotas do norte. . . . Assemelhar-me-ei ao Altíssimo.” — Isaías 14:13, 14.
As “estrelas de Deus” são os reis da linhagem real de Davi. (Números 24:17) A partir de Davi, essas “estrelas” governavam desde o Monte Sião, e com o tempo, o nome Sião passou a ser aplicado a toda a cidade. Por decidir subjugar os reis judeus e depois removê-los daquele monte, Jerusalém, Nabucodonosor declara sua intenção de se colocar acima dessas “estrelas”. Em vez de atribuir a Deus o mérito dessa vitória sobre eles, coloca-se arrogantemente no lugar Dele. Portanto, é depois da sua queda que a dinastia babilônica é chamada zombeteiramente de “brilhante”.
Com certeza a arrogância dos governantes babilônicos realmente refletia a atitude de Satanás, o Diabo também chamado de o “deus deste sistema de coisas” ou o “deus deste mundo”.-(2 Coríntios 4:4)
“Satanás também anseia ter poder e deseja colocar-se acima de Deus. Mas a Bíblia não atribui claramente o nome Lúcifer a Satanás”.- it-1 379.

'Hei de subir até o céu,acima das estrelas de 'E colocarei o meu trono,estabelecer-me-ei na montanha da Assembléia,nos confins do norte.Subirei acima das nuvens, tornar-me-ei semelhante ao Altíssimo'.- Lúcifer (Em Isaías 14:13-14)


E um dos anjos, tendo saído de sua hierarquia e se desviado para uma hierarquia abaixo da sua, concebeu um pensamento impossível: colocar o seu trono acima das nuvens que se encontram sobre a terra, para que seu poder se igualasse ao meu.(Livro dos Segredos de Enoch XXIX:3)


Agora gostaria de saber o que tu achas de tudo isso: Acredita na Igreja? É mais fácil/comfortável acreditar em tudo que te foi dito desde criança (por que não gosta de falar sobre o assunto)?

sábado, 22 de setembro de 2007

A Volta do Parafuso

A Volta do Parafuso, de Henry James.
Sinopse: Uma obra enigmática do escritor norte-americano Henry James que Oscar Wilde define como “um pequeno conto maravilhoso, terrível e venenoso”. Num clima de terror e suspense, uma jovem governanta narra a história de um casal de crianças, Flora e Miles, que supostamente eram possuídas por espíritos. Agora, resta descobrir (se é que dá para descobrir) se toda a história é fruto da sua imaginação ou se ela é vítima, realmente, de uma conspiração desses espíritos.
outra sinopse do mesmo livro:
SINISTRA E PEÇONHENTA
Fazer sinopse da história contada por um clássico muitíssimo conhecido é tolo, mas é preciso levar em conta o pouco que se lê no Brasil e que há muita gente nova para quem essa novela, embora muito citada, pode ser solenemente desconhecida. Eis a situação: uma mulher jovem, solteira, filha de um pároco de um vicariato rural, vai a Londres atender a um anúncio em que se oferece emprego para uma preceptora. O tio de um casal de crianças órfãs, solteiro, bonitão e mundano, precisa de uma moça para cuidar dos pequenos, que são, para ele, um grande incômodo. O que ele exige? Que a moça que se dispuser ao trabalho vá para uma propriedade, Bly, no interior da Inglaterra, e fique lá, cuidando das crianças, sem aborrecê-lo de modo algum com os problemas, podendo – na verdade, devendo - resolver tudo sem que a vida brilhante dele em Londres seja perturbada. É uma exigência absurda e egoísta, mas ele é encantador, percebe que ela é suscetível a esse encanto e um contrato obviamente chantagista é feito. Ela rumará para a propriedade, fará amizade com uma servidora rude e confiável, descobrirá que as crianças são excepcionalmente inteligentes e belas. Até que certas verdades, nada agradáveis, começarão a aparecer.Isso ajuda e é pouquíssimo. Em Henry James, a trama pode ser pequena ou nenhuma, visto que o decisivo é a maneira pela qual é narrada. E, nesse caso, estamos diante de uma arapuca finamente armada: a narrativa, decididamente, é suspeita. No preâmbulo, estamos em uma sala vitoriana em que uma história de fantasmas foi contada e um seu ouvinte promete ao grupo atento que tem uma muito mais terrível para narrar, excitando a todos. As suspeitas podem começar já aí, visto que esse narrador – que faz da coisa um teatro bem calculado – aparece sob as luzes duvidosas da manipulação e está envolvido pessoalmente com a coisa. É mais indireto: a história aconteceu com uma mulher que foi governanta de sua irmã e que ele conheceu quando pequeno. Na verdade, apaixonou-se por ela. E ela – naturalmente, a jovem que pegou a vaga de preceptora a que nos referimos - lhe deixou o manuscrito em que conta tudo. É preciso acreditar na fidelidade desse manuscrito. Mas, pode-se duvidar à vontade, à medida em que se vai conhecendo a narrativa da preceptora. Tem-se a impressão de um mecanismo de sedução que gira em muitas direções – tudo é extremamente ambíguo, tudo está implicado em alguma outra coisa e a narrativa tem que ser desde o início vista como algo que nasce sob o signo da arbitrariedade - dos personagens e do autor.Essa preceptora é um dos personagens mais ambíguos de um escritor pródigo em ambigüidades. Deitou-se tinta a fartar sobre seu caráter duvidoso e sobre sua condição de virgem vitoriana cheia de imaginação e frustração sexual em doses idênticas. Incumbida do casalzinho de órfãos, ela descobrirá que há, por trás deles, duas figuras que moraram em Bly e de cuja existência já não se fala mais: Peter Quint, o criado de quarto do tio, que a contratara, e Miss Jessel, a preceptora anterior das crianças. Os dois estão mortos. A descoberta é pavorosa, mas, muito à maneira ambígua do autor (e, como tradutor, garanto que sentia uma espécie de sorrisinho de James pairando nessas construções irônicas), é feita quando, numa tarde, devaneando romanticamente, ela imagina que seria emocionante encontrar-se com a bela figura do tio que a impressionara nas cercanias da casa. Sua fantasia se concretiza, e ela encontra um homem desconhecido. Não era, naturalmente, o seu contratante. Era um espectro, o que ela não sabe. Mas a motivação romântica, mesmo através do horror que sentirá quando a verdade lhe for revelada pela servidora, permanecerá – o homem era bonito. “Bonito, mas infame...”, como diz. Vestia roupas que visivelmente não eram dele. “São do patrão”, dirá, acabrunhada, a criada que bem o conheceu. Ela o julgou, a princípio, um intruso intolerável – na verdade, era alguém da casa. E assim começará a desesperadora tentativa de proteger as crianças de verem o fantasma – mais tarde, fantasmas – até que outra descoberta, mais aterradora, se imporá: as crianças sabem e, na verdade, escondem que sabem, encontrando-se com os espectros furtivamente. É caso para enlouquecer, e não é de todo implausível que o manuscrito tenha sido engendrado por uma mulher louca. O que é imaginado, o que é verdadeiro, nessa história? O público se dividiu enormemente com essa questão. “A volta do parafuso”, publicada no início em forma de folhetim, no Collier´s Weekly, em 1898, teve grande repercussão e polêmica. Oscar Wilde, ninguém menos que ele, disse que era “uma pequena história maravilhosa, sinistra e peçonhenta.” É uma história poderosamente sugestiva e que pode ir sendo descascada, camada por camada, sem que um miolo unívoco seja atingido. Wilde deve ter levado bem em conta as amplas possibilidades de perversão sexual que contém. Peter Quint, monstro, é um homem desejado. Mantinha um caso com a preceptora anterior – caso no mínimo escandaloso (do ponto de vista dos criados, que nada podiam fazer a não ser testemunhar e fuxicar) e que era testemunhado (mais tarde, sugere-se que imitado) pelas crianças. Os outros empregados não podiam falar dele, para não chatear o patrão, que o deixara lá para tomar ares do campo e sarar de alguma doença não explicada. Que espécie de intimidade era essa com o patrão, de quem usava as roupas? Morto, ele é um duplo do tio “gentleman”, duplo letal e paródico, que surge para a preceptora cheia de sonhos como a realidade sórdida que há por trás de seus ingênuos ideais românticos. Não é preciso ir muito longe para se imaginar homossexualidade nessa relação do criado de quarto com seu patrão, até porque persiste, nas impressões posteriores da preceptora, a sugestão de que o menino, Miles, fora expulso do colégio por dizer coisas estranhas aos colegas, com atitudes nitidamente influenciadas por seu convívio com o morto. Homossexualidade, incesto, pedofilia e o que mais se quiser estão nas suspeitas da preceptora e nas do leitor, às margens de uma história vitoriana de fantasmas. Num folhetim com jeito de apelar para a habitual cumplicidade de leitoras e adular o ego feminino, James conseguiu colocar tudo isso com suprema elegância, poesia e com uma peçonha de mestre.O PRINCIPAL SUSPEITO
Sexo e morte são o assunto dessa novela, na verdade. E estão organicamente interligados, porque é evidente, no contexto de puritanismo vitoriano em que a história transcorre, que a narradora é um pouco como uma personagem de Charlotte Brontë (pensa-se em Jane Eyre), tomada por anseios românticos, encontrando, numa atmosfera típica do romance feminino inglês – o casarão vetusto em que há um mistério – não o galã sonhado, mas um morto que não perdeu seu atrativo sexual. James estava consciente desse ângulo paródico e se refere à hipótese-clichê do “parente louco” no texto. Nesse contexto, sexo só poderia aparecer na forma de um demônio. Não haveria lugar para ele de uma maneira sã na cabeça de uma filha de pároco rural cheia a um só tempo de imaginação e preconceitos.Sexo, então, tem que ser uma coisa reprimida, indesejada e apavorante – um fantasma. Naturalmente, tal fantasma tem uma atração irresistível, e essa tensão entre monstro e fauno de Peter Quint dá ao texto riquezas ambíguas sem conta. Ele, o fantasma, é sempre comparado a um animal, mas é, ao mesmo tempo, exatamente por conter tudo de instintivo e permissivo, ou seja, de execrável, que encarna aquilo que a preceptora desejou – sem permitir que lhe subisse à consciência – no tio gentleman, e, depois, no menino de cuja educação cuida (o tempo todo ela se relaciona com o pequeno como se fosse um homem adulto, sedutor, em miniatura). As implicações dessa história não param de se estender, em múltiplas direções, nenhuma delas inocente. As interpretações ficaram por conta da finesse – e da grossura – dos leitores. E mesmo hipóteses metafísicas e religiosas tinham que se erguer em torno da novela. No Brasil, país onde o Espiritismo tem uma força nada desprezível, houve uma edição chamada “Os Inocentes”, por uma casa editora espírita de Matão, SP. Era um prato feito para a doutrina essa história da possessão de duas almas infantis por dois espíritos malvados, que podiam ser vistos como os “obsessores” a que os espíritas geralmente se referem. Não encontrei, em nenhum lugar, informação de que James tivesse acesso a esses simplismos kardecistas e, com seu espírito refinado, se o teve, na certa não os levou a sério. Dar aos “possessores” uma existência objetiva, independente e maléfica, isolando-os da subjetividade das crianças e da preceptora, é uma redução das mais estúpidas.No filme “Os Inocentes”, Truman Capote foi um dos roteiristas, e sua percepção de literato deve explicar em parte a felicidade dessa adaptação, que termina de maneira decididamente menos ambígua, com a preceptora beijando na boca o menino que lhe morre nos braços. Capote deu forma até um pouco grosseira a uma conjetura. Essas dúvidas com relação à veracidade da narrativa e à sanidade mental da narradora, que por vezes se transformaram em outras tantas duvidosas certezas, marcaram a análise da novela. E por isso é surpreendente encontrar, em “A arte do romance”, de James, recentemente lançado no Brasil em tradução de Marcelo Pen, o autor em nada se referindo às decantadas neuroses da preceptora, dizendo que sua intenção, ao escrever a novela, era fazer uma história de fantasmas, um entretenimento em que prevalecesse um tom de “trágica, mas requintada perplexidade”. Entre as intenções de James e as interpretações que a novela suscitou, há um abismo curiosamente... jamesiano. Essas leituras em aberto, capaz de levarem a grandes acertos e enormes absurdos, na certa deliciaram o autor. Mais (ou menos) apropriadamente, talvez, pode-se dizer que, entre os fantasmas aí tecidos, encontra-se um outro, bem sólido: o da própria Literatura, que se ergue, no lugar do real, como uma fonte de possibilidades vertiginosas. “A volta do parafuso” tem dois narradores e sabe Deus quantos infernais giros interpretativos; os deleites pantanosos que oferece parecem não ter limites. O principal suspeito, sem dúvida, é James, o artífice de um artifício que, a partir de si, se espatifa em milhares de espelhos que se refletem e hipóteses que se erguem e se desdizem. É a eficácia do parafuso. É o prazer de criar outros mundos, com uma perigosa e sedutora autonomia, que a Literatura nos dá.

Esse é uns dos poucos livros que li e recomendo, realmente fantástico, assustador do começo ao fim.

domingo, 16 de setembro de 2007

Angola



Choro de África
(Poeta Angolano)
Choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticos
no batuques choro de África
nos sorrismos choro de África
nos sarcasmos no trabalho choro de África
Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África
e mesmo na morte do sangue o contacto com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens
Choro de séculos
inventado na servidão
em histórias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas
Choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no círculo de ferro
da desonesta força
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida
fechada em estreitos cérebros de máquinas de contar
na violência
na violência
na violência
Choro de África é um sintoma
nós temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidos nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amor
e os olhos secos.


Aqui estou eu a postar, já algum tempo sem aparecer, gosto da África e então resolvi colocar esse poema de um poeta angolano que não consegui descobrir o nome até agora. No próximo falarei mais a respeito da África e do que me revolta. O que pensais a respeito da África?!

domingo, 9 de setembro de 2007

Libera Geral!!


A maconha é uma droga ( vale frizar que o conceito internacionalmente aceito para esse termo é o que diz que droga é toda e qualquer substância capaz de alterar o funcionamento de um organismo, no qual se inclui o álcool, o tabaco e até a cafeína ) alucinógena extraída da erva Cannabis Sativa, cuja qual é consumida segundo a OMS por cerca de 600 milhões de pessoas em todo o mundo. Por possuir efeitos relaxantes e dar ao usuário uma temporária fuga da realidade, seu uso é muito mais comum do que o de outras drogas. Porém, apesar da classificação internacional da erva indicar que ela é uma droga leve ( o tabaco e o álcool estão no mesmo nível que a cocaína nessa classificação, sendo portanto considerados drogas pesadas ), ainda há um forte preconceito contra os seus usuários. Para entender melhor esse preconceito, devemos nos remeter à década de 40, quando por motivos econômicos, iniciou-se a propaganda anti-cannabis nos EUA.Além do uso recreativo da Cannabis, há também a possibilidade de se utilizar a erva para outros fins, dentre eles a produção têxtil. Na década de 40, a industria têxtil convencional norte-americana se via ameaçada pelo crescente desempenho das fábricas que produziam tecidos através do cânhamo (derivado da Cannabis). Por esse motivo, houve uma espécie de complô da grande mídia na época para agregar a Cannabis uma imagem negativa forte ao ponto de causar nos governantes a necessidade de tratar a erva como uma droga assassina, a qual portanto, deveria ser proibida.A propaganda anti-cannabis teve base nos "fatos" apontados pelos que defendiam sua proibição, os quais ainda hoje são aceitos pelos mais ignorantes, os quais desconhecem os resultados de pesquisas mais recentes sobre o assunto. No passado, dizia-se que a maconha causava danos irreversíveis à memória, deixava o usuário mais burro, além do que segundo os mesmos, era uma droga extremamente viciante.Sabe-se hoje por a + b que é impossível ter uma "overdose de maconha", assim como estudos recentes demonstram que a erva é capaz de expandir os bronquíolos (o que pode ser um tratamento alternativo para quem tem bronquite )eu tive ou acho que tenho ainda bronquite asmática .heheehe , além do que é um meio de se curar um enfisema que esteja em curso. É conhecido também no meio científico o fato de que a Cannabis tem um baixíssimo índice de dependência ( 6 a 12%, dependendo da pesquisa ), e que os danos causados pelo uso contínuo são reversíveis, curados pelo próprio organismo quando se dá a abstinência do uso. Também é fato que a frase "maconha mata neurônios" é enganosa. O THC principio ativo da maconha não produz dano algum ao tecido cerebral.Devido à propaganda enganosa veiculada junto à maconha, criou-se o preconceito que hoje é presente em praticamente toda a sociedade. Diz-se que a maconha além de afetar fisicamente (como pregava a propaganda elitista contra a Cannabis), ainda produz efeitos morais sob os usuários. Tal suposição preconceituosa deve-se ao fato de que historicamente a maconha foi utilizada pelas classes mais baixas, os quais muitas vezes, vítimas da situação, eram condicionados ao crime. Hoje, porém, a classe que mais utiliza a erva é a classe média alta, porém o preconceito se mantém.Outra desculpa dos que se dizem contra o uso é o senso comum de que a maconha é a porta de entrada para as outras drogas. É fato que o "candidato" a usuário pode encontrar maconha com uma facilidade imensamente maior do que a cocaína, por exemplo, além de que a maconha é muito mais barata. Porém esse argumento contra o uso da erva é facilmente quebrado quando analisamos os meninos de baixa renda que viciam em cola. A maioria nem passa pela maconha. Raramente viciados em química utilizam maconha. A imensa maioria desses meninos viciados em cola passa direto da cola para o crack.Para quebrar o argumento dos que se dizem contra por implicações morais, as quais segundo os mesmos, impossibilitam o usuário de ter uma vida controlada e de obter uma carreira de sucesso, ganhar dinheiro e outras coisas que o mundo capitalista tanto valoriza, vale a pena exemplificar: 20% dos professores universitários já fizeram uso da erva, a qual foi muito comum na década de 60, principalmente entre aqueles com melhor formação cultural e acadêmica.Concluindo, a maconha não é o fim do mundo como dizem muitos "especialistas". É possível levar uma vida controlada com o uso da erva, que alias é benéfico em algumas ocasiões. O alívio causado pela maconha é uma terapia sem igual para um dos maiores assassinos da atualidade: o stress. Deve-se apenas desenvolver-se a tolerância quanto aos usuários, pois os que fazem opção do uso da erva, em condições normais, são aqueles que não desejam inconscientemente a autodestruição, são simplesmente aqueles que muitas vezes, devido ao stress causado pelo elevado trabalho mental, necessitam de uma válvula de escape, e encontraram tal válvula na Cannabis. E além do mais, com o elevado índice de tráfico no Brasil (o que gera a criminalidade como um todo) e o de desemprego, não seria má idéia abrirmos fábricas de cigarros de maconha, com um critério de venda rigoroso, o que sei que não acontece com o tabaco e o álcool, mas crianças compram maconha normalmente como se fosse pão mesmo. Posso ser criticado muito por isso, mas seria muito mas vantajoso para todos, pois o dinheiro que o Governo gastaria em propaganda anti-cannabis e no tratamento de "vicíados" seria muito menor do que o preço que pagamos diariamente, com vidas. Pense nisso!

OBS:Não citei a Holanda por que muitos diriam que não moramos lá!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Pequenos Pormenores

I have no time!!
foi mal aí mas estou meio sem tempo, depois coloco algo decente =P
se tiverem paciência e a conexão ajudar, assiste a esse video.
OBS: como não sei usar direito isso aqui, irei colar o link aí dará para assistir ;D
se tu entender alguma coisa da música, gostando ou não, comenta!